Um olhar sobre a Doença Inflamatória Pélvica - DIPA
- Mariana Macedo
- 25 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 29 de mai.
FATALIDADE
Depois de 15 fichas em sequência no Pronto Socorro de Ginecologia e Obstetrícia, eu e a outra médica plantonista, Laís, estávamos prontas para fazermos uma pausa. O Ps estava zerado. Ledo engano. Mal nos levantamos, quando o enfermeiro da ambulância adentra o consultório para passar um caso de uma paciente que ele estava removendo para aquela Maternidade.
A paciente chorava, gritava, urrava. Logo a posicionamos na maca para examiná-la e dela não conseguimos tirar muitas informações. A dor era muita. Já o marido, um senhor de estatura baixa, de pouco estudo e aparência humilde clamava por socorro:
- Dras, vocês precisam ajudar minha "véia". Estou a semana toda levando ela pro pronto socorro da cirurgia geral por causa dessa dor nas costas que vai pra barriga mas lá eles só enchem ela de tramal e liberam ela pra casa. Não posso voltar para casa com a minha "véia" assim de dor.
- Claro! Entendo. Ela tem alguma doença? Toma algum remédio todos os dias? - Eu buscava entender quem era aquela paciente.
- Só mesmo o coquetel do HIV, Dra. - o senhor respondeu - Estamos há 15 anos juntos, ela tem que ficar boa - ele pedia.
Laís me descreveu o exame físico da paciente: dor à mobilização do colo uterino, à palpação de baixo ventre e à palpação dos locais em que estão os ovários. Além disso, corrimento vaginal fétido e bolhoso. Estávamos diante de um quadro de doença inflamatória pélvica clássica em uma paciente imunocomprometida. Nossa conduta exigia amenizar a dor dela e interná-la para tomar os antibióticos na veia. Foi o que fizemos.
Marido agradecido e logo foi o fim daquele plantão.
Depois de 4 dias, lá estava eu novamente de plantão. Quando entrei no consultório, Vivian já estava atendendo a paciente. Reconheci a mesma rapidamente. Era a mulher que agonizava há dias atrás. Rapidamente perguntei:
- Mulher, como você tá? Eu lembro de você. Semana passada você veio com seu marido aqui.
Vivian fez um sinal para mim. Daqueles que significa para parar que eu estava falando bobagem. Calei-me.
A paciente não me respondeu.
Vivian terminou a consulta e a paciente foi liberada. Foi então que Vivian me contou. No dia em que eu internei aquela paciente, Vivian assumiu o plantão noturno, o seguinte ao meu. Ela atendia no PS quando ouviu um grito vindo da enfermaria. Vivian saiu rapidamente para saber o que estava acontecendo. Algum recém nascido da UTI da neonatal deveria ter ido a óbito.
Quando chegou ao quarto de onde tinha partido o grito, Vivian encontrou aquela paciente ajoelhada a chorar, um choro mais triste, mais sentido. Dessa vez a dor não era na barriga, era no coração. " Meu véio, meu véio não". Seu marido tinha ido buscar roupas pra ela ficar no hospital e tinha acabado de infartar na frente de seu filho.
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Crônica baseada em fatos reais.
Nomes fictícios.
Direitos autorais reservados.
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